Roger Biau, Pai da Maçã no Brasil se Despede do País

Roger Biau, Pai da Maçã no Brasil se Despede do País

 
 
 
 
Ele retornará para a França na próxima semana.
Homenagem da ABPM a quem dedicou 50 anos à produção da Maçã Brasileira.
 
 
Sr. Roger(a lado) e sua esposa estão de malas prontas de volta à França. Ele deixa em Fraiburgo a sua história enraizada junto as macieiras, as quais dedicou-se por mais de 50 anos. Mas, deixa também a história de sua vida estampada na imagem do castelinho que construiu à sua amada, Dª Evelyne Biau.
Sr. Roger deixará muitas lembranças e saudades por aqui. Muito Obrigado de todos os produtores de maçã do Brasil.

 

RESUMO DA HISTÓRIA

 

(Da direita para esquerda)Roger, Pierre(genro), Nicolas(neto),  Pascale(filha), Evelyne(Esposa)

 

Roger e Evelyne Biau na História da Maçã Brasileira

Por: Karin Rolinski
 
Roger Biau nasceu em 1930 na Argélia, que era província francesa na época. (Biau se pronuncia em francês “Bio”, que exprime a idéia de vida). Formado em agronomia e especialista em Frutas de Clima Temperado na França.(ao lado imagem de 1963 na preparação dos terrenos para plantio de maçã)
 
Roger era diretor técnico de um grupo francês em viti-fruticultura, o grupo Evrard-Mahler, quando criou-se a sociedade “SAFRA” formada pelo grupo Evrard-Mahler, e o grupo Frey, proprietário da região de Fraiburgo onde funcionava uma importante serraria.
 
Na formação da sociedade “SAFRA”, foi feita a proposta para Roger, pelo novo grupo, de implantar em Fraiburgo uma fruticultura moderna de clima temperado. Roger avaliou as enormes dificuldades tanto materiais como técnicas que iria encontrar para tentar implantar uma fruticultura moderna de clima temperado num clima tropical, mas para ele, se apresentava uma oportunidade única, profissionalmente.   Convencer a esposa, já com duas filhas de dois e três anos, de deixar o País, a família, as facilidades, a qualidade de vida que tinham na França, não foi fácil. Mas a corajosa Evelyne aceitou o sacrifício de acompanhar o marido o quanto pudesse. Ai, Roger aceitou o desafio, fazendo do projeto de implantação de Fruticultura moderna de clima temperado no Brasil, a missão de sua vida.
 

(imagem 2, Roger, 1963 1ªs mudas maçã).

Na época, ninguém sabia quais espécies de fruta, quais variedades de qualidade internacional poderiam ter bom comportamento no Brasil, e foi dado para Roger carta branca para tentar implantar este projeto. Então, foi preparado na França, uma primeira coleção de diversas espécies, incluindo a macieira, e Roger chegou em Fraiburgo junto com a primeira coleção em Julho de 1963. Não tendo câmara fria, as mudas foram enterradas na sombra do mato mais frio da região.
 

(imagem 3, Roger, 1963, preparação do terreno).

Preparado o terreno, foi instalado em Novembro de 1963 o primeiro pomar experimental. Com muitas dificuldades. Roger nem sabia falar português. Todas as operações que foram feitas para iniciar a instalação de uma fruticultura moderna em Fraiburgo eram iniciadas pelo próprio Roger: preparação do terreno, marcação do pomar, preparação das covas, preparação das mudas, plantio com todos os cuidados necessários, podas, enxertias. Roger ensinava só mostrando e repetindo para o pessoal, a maioria formada só para derrubar e cortar árvores. Foi muito difícil.
 

(imagem 4, Roger, 1963, preparação do terreno).

Tendo carta branca para fazer o que bem queria, ajudado pelos próprios sócios, Roger iniciou um longo período de 12 anos de experimentos. Fato, certamente inédito no mundo, foi à instalação de um pomar experimental de tal importância, cobrindo 42 hectares de fruta de clima temperado em clima tropical, com todas as iniciativas e todas as despesas feitas por um grupo privado.  Foram dez importações seguidas provenientes dos maiores e melhores viveiros da Europa, os viveiros do francês Georges Delbard. Dez importações totalizando 525 variedades e 80 tipos de porta-enxertos do melhor material vegetal de todas as melhores espécies e variedades de fruta de clima temperado existentes no mundo. 525 variedades que cobriam um pomar experimental de 42 hectares, onde foram realizadas milhares de combinações: preparo e correção do solo, combinações de cada variedade com diversos porta-enxertos, várias conduções da árvore, diferentes tipos de poda, adubações, etc, etc, etc… .
                                       

(imagem 5, Roger, 1967, preparação dos pomares).

Todos os especialistas em frutas de clima temperado convidados de diversas regiões do mundo foram unânimes em dizer que era o maior experimento de iniciativa privada conhecida desta escala no mundo..

Foi em 1968 que Roger chegou a primeira conclusão: a espécie que tinha as melhores condições de sucesso, em grande escala, era a macieira. Daí os experimentos continuaram mais focados na macieira. Das 525 variedades experimentadas faziam parte 165 variedades de maçã. E foi em 1975, depois de 12 anos de experimentos e despesas enormes, que chegaram as últimas conclusões: confirmada a espécie macieira, e das 165 variedades experimentadas se destacaram Gala, Golden e Fuji. Golden não agradou o consumidor. Ficaram Gala e Fuji, duas variedades novas na época, duas variedades ainda hoje sendo as principais cultivadas no Brasil e apreciadas pelo consumidor no mundo inteiro.  Disse Roger: “foi uma sorte grande e ajuda de Deus, de ter selecionado justamente estas duas excelentes cultivares, na época pouco conhecidas e pouco divulgadas, e hoje as mais apreciadas e mais procuradas no mundo inteiro. 
 
Em 1975, Roger considerou que sua missão tinha sido cumprida. Mas ai iniciou outra missão: plantar 1000 hectares de macieiras para o grupo e divulgar o seu conhecimento e sua experiência.
 
Roger naturalizou-se brasileiro, junto com a esposa e as duas filhas. Roger foi convidado por autoridades, prefeituras, e futuros fruticultores interessados e percorreu durante muitos anos os três estados Sul do Brasil, fazendo palestras, instalando pomares experimentais nas prefeituras, iniciando instalação de pomares de novos fruticultores, também trabalhando junto com os pesquisadores das estações de São Joaquim, Caçador, Pelotas e Curitiba.

(da esquerda para direita) Roger, Luiz Borges, Katsurayama, José Luiz Petri.

Roger Biau é considerado e Chamado de “Pai da maçã do Brasil”

Roger Biau, pouco antes de deixar o Brasil, recebeu homenagens pelo grande trabalho que prestou à este País. Sua saga iniciou em 1962, com a proposta do novo grupo franco brasileiro
e depois de estudar bem o projeto fez sua primeira importação de mudas em 1963. Quando Roger chegou no Brasil, o País tinha torno de 70 milhões de habitantes e deixou sua atividade plena em 2010, com 80 anos de idade, contra sua vontade, devido a uma operação no coração, e em seguida o início da “doença de Parkinson”, quando os médico o aconselharam a voltar para a França, pois lá haviam especialistas desta doença. Deixou o Brasil em 2012 “com o coração na mão”, o País já tinha 200 milhões de habitantes. Roger é chamado e reconhecido por “Pai da Maçã” depois de 50 anos de dedicação e trabalho intenso, considerada muito mais importante que isso ter ajudado o brasileiros e o Brasil a se tornar essa Grande Nação.   

 

Roger Biau recebeu muitas homenagens, das quais podemos destacar:

– Título de Cidadão Fraiburguense, logo depois do Padre Biagio Simonetti, em 1971;
– Participação na instalação do “PROFIT” em 1970, e assistência técnica ao Programa de Fruticultura de Clima Temperado no estado de Santa Catarina;
– Medalha Monumento Nacional ao Imigrante, recebida da prefeitura de Caxias do Sul, em 1973;
– Homenagem e agradecimentos da Prefeitura de Vacaria, em 1976;
– Homenagem e Agradecimentos da Prefeitura de Palmas, Paraná, em 1978;
– Homenagem e Agradecimentos da Prefeitura de Guarapuava, Paraná, em 1978;
– Primeiro Prêmio de Integração Conesul (os três estados do Sul do Brasil), uma homenagem da “Câmara Internacional de Pesquisas e Integração Social”. Prêmio recebido em 1990, junto com outro Catarinense, o Governador Casildo Maldaner.
– Homenagem do ENFRUT (Encontro Nacional sobre Fruticultura de Clima Temperado) pelo “pioneirismo e pelos relevantes serviços prestados à Fruticultura brasileira”;
– Colaboração nas estações experimentais de Videira, Caçador e São Joaquim, e doação para aquelas estações parte da coleção das 525 cultivares de Frutas de Clima Temperado recebidas e experimentadas em Fraiburgo;
10º – Roger foi o primeiro professor a dar aulas de fruticultura no curso técnico em agropecuária criado em Fraiburgo.
Fato relevante: de todas estas assistências técnicas, palestras, cursos, visitas realizadas onde Roger era convidado, toda esta colaboração, participação na instalação de uma fruticultura moderna no Sul do Brasil, Roger nunca cobrou nada de ninguém. Recebia do grupo Safra, depois Agrícola Fraiburgo, e nunca aceitou remuneração alguma em troca da assistência técnica concedida aos três estados do Sul, tanto das prefeituras como de novos fruticultores.      
 
 

Evelyne Biau

 

(da direita para esquerda)Roger, Pascale(filha), Nicolas(neto), Evelyne(esposa), Yoann(neto).

 
Evelyne chegou ao Brasil junto com seu marido e as filhinhas em 1963. Agüentou a saudade, todas as dificuldades durante dois anos. Mas julgando então que Roger iria ficar por muitos anos, ela se desesperou, e quis voltar para a França, levando as duas filhas. E ela estaria cheia de razão e de argumentos fortes, e Roger sentiu a obrigação de ir com ela. Porém, convidou vários técnicos franceses para continuar a grande obra iniciada, a maioria nem quis se deslocar, alguns vieram, mas ninguém quis ficar, chamando Roger, concordando com sua mulher, de louco por enfrentar tal desafio, além das dificuldades materiais, era, segundo eles, impossível implantar uma fruticultura moderna de clima temperado em um clima tropical.Roger contou o fato aos sócios, que ficaram preocupados e pediram o que poderia segurar a Evelyne, eles estavam decididos a fazer qualquer coisa. Roger sabia que Evelyne gostava muito de casa, sempre fazendo plantas de casas. Então foi proposto para ela escolher o terreno para construir a casa de seu sonho. Ela se interessou e elaborou, junto com um arquiteto amigo francês, a planta de um casarão, o qual assustou Roger, mas não os sócios que se prontificaram para ajudar no que fosse necessário.Assim foi iniciada a construção do castelinho no meio de um terreno de 10.000m2 incluindo o bosque de araucária o que atualmente chega até o Hotel Renar. Eveline acompanhou a construção, uma verdadeira fortaleza, do primeiro até o último dia, durante 3 anos. Em 1968 o “Castelinho” estava construído e Evelyne não falava mais em ir embora.
Dessa forma que a história do “Castelinho de Fraiburgo” é intimamente ligada à história da maçã no Brasil, e o “Castelinho” idealizado e realizado por Evelyne Biau permitiu continuar esta fabulosa obra de uma Pomicultura moderna de Clima Temperado no Brasil.       
 



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