Desconstruindo os mitos dos agrotóxicos

Desconstruindo os mitos dos agrotóxicos

Data de Publicação: 06/04/2016 às 17:30hs 
Por Coriolano Xavier,
Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura
Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da
ESPM
A ocorrência pontual de residual químico
em alguns alimentos é sempre tema de comentários na mídia e discussão
tanto na sociedade urbana como na rural. Um assunto recorrente, já visto
várias vezes e sem disso evoluir uma solução consistente. Daí comecei a
reescrever mentalmente e pelo avesso, essa história da defesa
sanitárias na agricultura, como se tudo ocorresse de modo perfeito.
Vamos imaginar: um agricultor observa em
sua lavoura a presença de insetos predadores, como as vorazes lagartas,
ou então alguma doença nas plantas. Fala então com um agrônomo – da
cooperativa, da extensão rural ou seu funcionário – e pede um
diagnóstico da situação. Se a infestação for pouca, sem dano econômico
ou qualitativo relevante, nada se faz; se for mais séria, o agrônomo vai
receitar um tratamento com produto agroquímico específico.
Esse produto, para estar disponível no
mercado, deve ter passado por alguns anos de pesquisa, por testes
provavelmente abrangentes e, depois, foi registrado e autorizado, a
partir de um dossiê toxicológico amplo, como é exigência da autoridade
de vigilância sanitária do governo brasileiro.
O agricultor então vai comprar o produto
em uma revenda ou cooperativa, com o respectivo receituário, pois assim
prescreve a lei que regulamenta o uso de agrotóxicos. Para aplicá-lo,
terá que seguir as indicações da receita e ainda ler a bula, verificando
todos os cuidados que deve tomar.
Na hora de usar o produto, o agricultor e
sua equipe seguem técnicas e regras de manejo estabelecidas pelas
escolas de agronomia e pelos manuais de uso dos fabricantes desse tipo
de produto. Inclusive, essas pessoas devem utilizar a roupa apropriada
ao serviço – o chamado EPI¹ para evitar o risco de exposição durante a
aplicação.
Depois disso, o tratamento vai continuar
ou não, dependendo do grau de severidade ou reincidência da doença ou
infestação. Mas tem um momento em que tudo para: é quando a plantação
chega ao período de carência, antes da colheita. Nessa fase, os
tratamentos são suspensos para evitar residual nos alimentos, além dos
índices definidos como seguros para o homem, pela própria legislação
brasileira de vigilância sanitária.
Nessa fase, os tratamentos são suspensos
para dar segurança aos alimentos, evitando residual que ultrapasse os
índices definidos como seguros para o consumo humano, pela própria
legislação brasileira de vigilância sanitária. É assim que os alimentos
ficam dentro dos padrões previstos por lei.
Um detalhe importante em tudo isso:
existem leis, regulamentações, práticas de manejo, padrões de controle,
procedimentos e protocolos de segurança, para que tudo isso aconteça a
contento e dentro da conformidade prevista. Ou seja: para que os
alimentos cheguem ao mercado com a qualidade e saudabilidade esperadas.
Por que então isso não acontece às vezes e vemos uma situação como a da
notícia da TV? Onde está o furo? Que elos da corrente foram rompidos,
seja por falha, falta de capacitação ou dolo? O interessante é que se o
sistema de controle fitossanitário funcionasse de modo integral,
aparentemente isso seria o melhor para os todos envolvidos, do
agricultor ao consumidor. Por que então isso nem sempre acontece?
Se as plantas não precisassem de apoio
para vingar e sobreviver, claro que seria melhor. Eu mesmo, que preciso
de meia dúzia de remédios todo santo dia, bem sei disso. Mas como os
ambientes produtivos são hostis e estressantes para os vegetais, ainda
não conseguimos escapar disso, pelo menos considerando a escala da
produção alimentar exigida hoje em dia.
Opções fora da defesa sanitária das
plantações podem valer em tese, mas ainda carecem de viabilidade
econômica extensiva. E o poder da ciência ainda não criou novas equações
para esse desafio. Portanto, enquanto isso não acontece, temos uma
tecnologia de manejo fitossanitário desenvolvida dentro de padrões
técnico-científicos consagrados, que viabiliza e chancela a segurança
sanitária dos alimentos vindos do campo.
Está tudo no roteiro simulado acima. Ele
existe. Já mostrou que funciona e dá resultado, aqui no Brasil e em
outros países de agricultura moderna. A prova mais eloquente são os
números da produção mundial de alimentos e a evolução nutricional e de
saúde das populações. Só que ele precisa funcionar sempre e em todos os
lugares.

É preciso trabalhar com dados objetivos e
científicos, para saber onde de fato ocorrem problemas. Sem saber
exatamente onde se está, não se consegue sair do lugar. É preciso
transparência, informação, diagnóstico preciso, correção, controles e
até punição se for o caso. As ferramentas existem. Do contrário, às
vezes a mesa poderá nos surpreender e virar manchete de noticiário.
Infelizmente para todos

 


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