Dólar vai a R$ 3,60 e é recorde em 12 anos

Dólar vai a R$ 3,60 e é recorde em 12 anos

Paulo Silva Pinto

Moeda norte-americana tem o terceiro dia de alta. Além da instabilidade na China, analistas veem aumento das dificuldades políticas do governo e enfraquecimento de Levy, indicando mais obstáculos para o ajuste fiscal

Quem busca uma medida da vulnerabilidade da economia brasileira encontra no dólar o melhor indicador. Nos últimos três dias, a moeda norte-americana fechou em alta. Onte, se valorizou 1,57%, encerrrando o dia a R$ 3,608, a maior cotação desde fevereiro de 2003.”O novo piso do dólar é R$ 3,50″, afirmou Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners. “E, em breve, deverá bater em R$ 4”, completou.

A velocidade com que isso vai acontecer dependerá da evolução do quadro global e também da dificuldade do governo para dar continuidade aos ajustes na economia. Como as perspectivas, nos dois casos, não são as melhores, o patamar simbólico de R$ 4 poderá chegar em breve, antes da virada do ano.

A instabilidade da economia chinesa faz com que o real perca valor porque indica que a queda na demanda por commodities que o Brasil exporta para o país asiático será mais acentuada do que se esperava. Mas esse é apenas um dos fatores a pressionar a moeda brasileira.

Riscos no horizonte

A expectativa de elevação dos juros nos Estados Unidos mostra que o Brasil enfrentará maior competição por recursos dos investidores internacionais. E a tendência é de que o país se torne ainda menos atraente caso perca o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco.

“O dólar poderá baixar um dia ou outro, em função de alguma notícia. Mas o viés continuará a ser de alta”, disse Velho. Ontem, a moeda norte-americana ensaiou um recuo. Na cotação mínima do dia, foi negociada a R$ 3,513, queda de 1,1% em relação à véspera. Mas, no início da tarde, o sinal já havia virado. No pico, chegou a valer R$ 3,609.

Para analistas, o que mais pesou ontem foram as incertezas no cenário político nacional. O anúncio de que o vice-presidente Michel Temer está deixando a coordenação política do governo foi interpretado como um sinal de que o governo enfrentará mais dificuldades no Legislativo para a aprovação de medidas que equilibrem as contas públicas.

Outro sinal ruim veio do adiantamento de 50% do 13º dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em setembro. Além de o gasto em si, de R$ 15 bilhões, ser alto, a decisão mostrou enfraquecimento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que defendia a divisão do pagamento em duas parcelas: 25% em setembro e outros 25% em outubro.

O Banco Central (BC) continua atuando no mercado por meio da renovação dos contratos de swap cambial, que equivalem à venda de dólar no mercado futuro. Ontem, negociou 11 mil contratos para a rolagem do lote que vence no próximo mês. Até agora, o BC já ampliou o prazo de contratos no valor de US$ 8,09 bilhões, o equivalente a 81% do total.

Gasto com viagens recua

O aumento do dólar e a queda na renda bateram forte nos gastos dos brasileiros em viagens ao exterior. Em julho, tradicional mês de férias, os gastos ficaram em US$ 1,67 bilhão. Esse é o menor valor em cinco anos. Em julho de 2010, as despesas foram de US$ 1,53 bilhão. Em relação a julho do ano passado, a queda foi de 30,5%. Em 2014, os brasileiros torraram US$ 2,41 bilhões em compras lá fora. Já os turistas estrangeiros no Brasil reduziram os gastos em 40,4%, contabilizando US$ 468 milhões em julho. O que contribuiu para esse resultado foi a Copa do Mundo, ocorrida em junho e julho do ano passado, que elevou a base de comparação. No acumulado do ano, o saldo líquido dessa conta está em US$ 8,20 bilhões ante os US$ 10,48 bilhões do ano passado. Os dados do Banco Centralapontam para uma redução anual de 46%.



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